Deitado ou largado, olho para um teto que um dia foi branco. Que um dia te acolheu como refúgio de uma vida entortada por desacertos. Como ele, hoje eu apenas desboto as lembranças que buscam os contornos do teu rosto. O mesmo rosto que acolhi no meu peito, com seus mesmos suspiros e lágrimas.
Estou largado, ou deitado, e as manchas maculam meu teto e minha saudade.
Você disse que sempre me amaria, e o brilho nos teus olhos me fez acreditar. Podia ver a mulher dentro do corpo, lutando contra suas lamúrias passadas, seus homens tortos que entorpeciam a mente com promessas juradas e fingidas. Podia ver seu embate sincero. Podia sentir o calor de sonhos de um sol, a iluminar faces e caminhos. Mas, tudo se apagou e muito tempo se passou desde o som do adeus que libertaste dos teus lábios. E esta palavra martela minha consciência. Não são os sussurros apaixonados que se deitaram comigo nesta mesma cama. Não é o "querido" salpicado tantas vezes naqueles dias que escorreram no calendário para o passado. É apenas um som. Adeus!
Há poemas que não precisam ser lidos em voz alta, a própria alma os escuta. Este é um deles.
ResponderExcluirA dor do adeus aqui não é amargura, mas memória viva, que insiste em permanecer mesmo nas manchas do teto, no silêncio da cama, no som que ainda reverbera. E, mesmo entre tantas perdas, há beleza: a de quem amou com sinceridade, de quem viu a mulher por trás das dores, de quem guardou nas lembranças o calor dos sonhos.
É um poema triste, sim, mas profundamente humano, e por isso mesmo, belo. Porque onde houve amor, mesmo no fim, permanece alguma forma de luz.